Canhão e balas do Forte S. Miguel Arcanjo



Em dezembro, venha descobrir outro “canhão da Nazaré”!

Proveniente do Forte de S. Miguel Arcanjo que, na ponta extrema do Promontório, ainda se ergue como secular guardião dos mares, o Museu Dr. Joaquim Manso tem em exposição um dos seus primitivos canhões, lembrando as funções militares daquele monumento, hoje tão visitado e fotografado por causa das pujantes ondas da Praia do Norte.



Canhão e respetivas balas
Ferro
Séc. XVII – XVIII
Proveniência provável do Forte de S. Miguel Arcanjo, Nazaré
Oferta de Noémia Garcia Calixto, 1981
MDJM inv. 1 a 8, 26 e 27 Div.

No século XVI, piratas e corsários (argelinos, franceses, holandeses, ingleses e espanhóis) eram uma ameaça constante à comunidade e às atividades desempenhadas na Praia da Nazaré pelos pescadores da Pederneira e do Sítio, assim como ao transporte de madeira do Pinhal do Rei, a que o inimigo poderia deitar fogo.

Segundo Saavedra Machado (2009: 9), o Forte de S. Miguel Arcanjo, ainda hoje emblemático na paisagem monumental da Nazaré, nasceu numa altura de decadência do Porto da Pederneira, primeiro núcleo populacional deste concelho, e de desguarnecimento de fortalezas da costa atlântica, durante o curto reinado do jovem Rei D. Sebastião.
Coube de facto a este monarca a iniciativa de construir um forte para proteção da costa e a escolha do local onde seria implantado, na ponta lançada ao mar do rochoso promontório do Sítio, a maior elevação da costa a dominar as operações a Norte, Sul e Oeste surgidas do Oceano Atlântico.

Em 1593, Frei Vicensio Casal expõe a planta do Forte, a primeira conhecida e considerado o projeto de edificação mais antigo, mas todavia inacabado.
Com a Restauração da Independência a 1 de dezembro de 1640, o então Capitão da Pederneira, Manuel Gomes Pereira, informou por carta o novo rei sobre o estado de situação do forte, que viria a ser concluído nesta nova fase, conforme inscrição na fachada, onde se encontra a imagem de São Miguel Arcanjo, em pedra calcária, e a legenda "El Rey Dom Joam o 4º – 1644".

Com Bernardim Ribeiro como Capitão da Pederneira, em 1595, e posteriormente, em 1639, com Gomes Pereira, o Forte de S. Miguel foi reforçado com armamento e guarnição militar. Nesta época, existiriam 6 peças de ferro coado.
O canhão que agora se evidencia terá desempenhado papel importante na defesa da linha de costa da Nazaré, sobretudo até ao século XIX.
Segundo Saavedra Machado (Machado, 2009: 45), esta “peça de artilharia foi, no século XX, desenterrada na quinta de S. Gião e, depois de estar muitos anos em coleção particular, pertence hoje ao Museu da Nazaré, bem como algumas balas rasas”.


Para além da visita ao Museu Dr. Joaquim Manso e ao Forte de S. Miguel, sugerimos a consulta do livro de João L. Saavedra Machado, “O Forte de S. Miguel Arcanjo. Monumento histórico-militar do séc. XVII”, 2009. 



Álvaro Laborinho, "A Pedra do Guilhim e o Forte", 1913. MDJM inv. 1079 Fot.


Busto de Joaquim da Rita


Fotografia: José Pessoa (DGPC/ADF)


António Paiva
"Busto de Joaquim da Rita", 1981
bronze, alt. 75 cm
Comprado por encomenda ao autor, 1981
Museu Dr. Joaquim Manso inv. 30 Esc.

Busto em bronze representando Joaquim Bernardo de Sousa Lobo, vulgarmente conhecido como "Joaquim da Rita". De barba comprida e cachimbo, enverga chapéu e farda de cabo-de-mar, ostentando no peito as várias condecorações com que foi agraciado.

Mais conhecido por "Joaquim da Rita", Joaquim Bernardo de Sousa Lobo nasceu em Lisboa, em 15 de fevereiro de 1854, e faleceu na Nazaré com 85 anos, em 21 de janeiro de 1939.

Desde cedo, manifestou grande inclinação pela vida do mar, que iniciou apenas com 14 anos, realizando a sua primeira viagem na costa portuguesa. Dois anos mais tarde, embora como moço no patacho "Fausto", rumou ao Brasil, o que fez durante 15 anos seguidos, ocupando todos os cargos de bordo, desde moço a mestre. Com esta função, num barco à vela, naufragou na costa do Rio de Janeiro, tendo sido salvo por outra embarcação.


Fixa-se, então, definitivamente na Nazaré; tornou-se pescador, participando em duas campanhas de pesca do bacalhau nos bancos da Terra Nova.

Dotado de forte personalidade, dizia sentir-se bem nas tormentas. Quando as havia era o primeiro a aparecer, demonstrando sempre grande serenidade e coragem. Deste modo, cedo granjeou grande admiração entre a classe piscatória da região, pois, de uma forma ou outra, lhe deviam ou a própria vida ou a de qualquer familiar.

Em 28 de Janeiro de 1893, foi nomeado cabo de mar da Capitania do Porto da Nazaré, cargo que manteve até 1914, chegando a ocupar simultaneamente as funções de regedor e zelador da Câmara.

Muitos foram os naufrágios em que tomou parte e, em vários, pondo em risco a própria vida, nomeadamente nos do barco das "Sabinas", na barca norueguesa "Undine" e noutras embarcações de pesca, em 1898, 1901 e 1902.

Mas foi, sobretudo, como 1º "patrão" da Barca Salva-Vidas Nossa Senhora dos Aflitos, que hoje também faz parte do acervo do Museu da Nazaré (MDJM inv. 943 Etn.), que praticou salvamentos e atos de verdadeiro heroísmo que lhe mereceram, por parte do Instituto de Socorros a Náufragos, várias condecorações (2 medalhas de ouro, 8 de prata, 5 de cobre, 1 diploma de honra). Em 28 de janeiro de 1907, na Assembleia Geral daquela instituição, a Rainha D. Amélia colocou-lhe o colar de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada.

 
O seu nome nome foi dado a uma rua da Nazaré.


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