Esqueleto de Caravela
















Esqueleto de caravela (miniatura)
António Luís Júnior, 2004
madeira
MDJM inv. 1857 Etn.





"Há árvores que estão no pinhal por engano (…).
Parecem barcos já feitos, à espera que os ponham a boiar.”
Alves Redol, Uma fenda na muralha (1959)



A construção de embarcações em madeira foi, durante séculos, uma importante atividade económica na Nazaré, a ela se reunindo um conjunto de saberes e práticas, hoje em franco declínio.

Numa estreita articulação entre mar e floresta, o vasto pinhal de Leiria e o dito “Pinhal da Senhora” marcam a paisagem litoral desta região, favorecendo a sustentação das areias e a relação de proximidade / dependência com o homem, que a eles ia buscar a lenha, as pinhas e a resina, para além da madeira para a construção naval. Ao longo dos tempos, alvarás, leis e outras medidas comprovam a proteção régia a este arvoredo.
Em parte assim se justifica também o papel da desaparecida “Lagoa da Pederneira” na expansão portuguesa, aqui se iniciando a construção de naus e caravelas, de que a miniatura exposta é uma singela evocação, saída das mãos do último construtor naval da Nazaré ainda em actividade – António Luís Júnior.

Eram utilizados vários tipos de madeira, conforme se destinavam ao casco e seus acessórios, à decoração das câmaras e alojamentos, ou ainda a pequenas embarcações, palamentas, mastros e remos. Em Portugal, as madeiras mais comuns na construção de traineiras, batéis, botes, fragatas, entre outros, eram o carvalho, o pinho manso, o pinho bravo, eucalipto, sobreiro, mogno, cedro, entre outras variedades.

Antes de mais, era necessário saber escolher as árvores a cortar e aproveitá-las ao máximo. Trabalhadas no estaleiro com recurso a várias ferramentas e equipamentos, a partir de desenhos e plantas, grades e moldes, num saber técnico transmitido de geração em geração, nasciam das mãos dos “calafates” as embarcações que iriam cruzar os mares em busca do sustento de uma família, de uma comunidade, de um povo.

A relação mar – terra – pinhal, ainda hoje evidente, é esteticamente firmada por Francisco Santos (saber mais), pintor de Porto de Mós que, nas telas temporariamente cedidas, elege a cor e a forma do arvoredo na definição da paisagem da região, inquietando-nos com reflexões sobre o património natural e a sua ligação com as actividades humanas de extração (pesca e agricultura), contemplação e fruição.